I João 4.8
"Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor."
Foi com muito pesar e comoção que o mundo acompanhou os acontecimentos
de ontem (13/11/2015) em Paris. Diversos atentados terroristas sacudiram a
capital francesa, homens bombas explodiram-se a si mesmos, visando causar o
maior número de mortes possíveis.
Homens munidos de fuzis, atacaram diversos
pontos,entre eles, casas de entretenimento, restaurantes, estádios de futebol e
etc. Até o momento, mais de 150 vitimas já foram confirmadas, tudo isso girando
em torno do que acreditam ser uma "guerra santa", denominam-se
soldados de deus tais combatentes, e me pergunto se por um acaso um deus que se
julga tão poderoso precisa de defensores ou soldados?
Não é de hoje que os homens fazem guerras em torno de suas religiões, a
história nos mostra isso, sempre foi assim, sempre houve a necessidade insana
de fazer prevalecer a "fé" através da espada. Homens rudes, sem
afeição por ninguém, sempre mancharam as páginas dos livros de história ou
manchetes de jornais com sua sede diabólica por sangue, e sempre divinizaram
tal sede, como se fossem os enviados por tal divindade para trazer justiça a
causa de sua fé.
Os motivos por tais atentados são os mais diversos, variam desde a morte
dos infiéis, charges satíricas de seus ícones, represálias políticas e etc.
Ninguém é poupado, não se importam com crianças, não respeitam aos idosos, não
aceitam o diálogo, apenas a sede incontrolável pelo sangue derramado move tais
pessoas rumo ao objetivo a ser alcançado.
Claro que seria muita hipocrisia atribuir essa sede de sangue somente aos
fundamentalistas islâmicos, nós mesmos somos ícones da maldade com nossos
semelhantes, e não quero nem vaguear em reflexões sobre o que as grandes
potências tem feito com seu poder e influência, quero falar sobre a nossa
realidade, o que vivemos no Brasil.
Os atentados ao ser humano também acontecem no Brasil, não são com
bombas, não empunham fuzis,mas se denominam soldados de deus.São defensores do
que chamam de "família", suas fardas são o terno e a gravata, sua
arma para realizar tais atentados é a caneta esferográfica. Com essa
arma,assinam decretos, determinam leis, subtraem direitos civis das mais
variadas minorias,e espantosamente, carregam livros religiosos nas mãos durante
suas reuniões comunitárias. Falam constantemente do amor que seu deus tem por
todos, afinal são obrigados a isso, está escrito no livro que carregam. Só que
não refletem a imagem desse deus que dizem representar.
Veja a que ponto chegam; dizem amar a comunidade homossexual em nome de
seu deus, mas não lutam por políticas públicas que demonstrem esse amor. Nisso,
me pergunto: Existe amor sem justiça?
Talvez alguém argumente que lutar por justiça junto a causa homossexual
seria antibíblico, que isso é abominável a Deus, que tal prática é pecaminosa e
etc. Mas esquecem que o casamento é um sacramento da Igreja e nisso o Estado
não pode interferir, não pode determinar quem casa ou não, o Estado existe para
garantir os direitos das pessoas no âmbito civil, e a nossa falta de amor,
movida por um "Q" de fundamentalismo religioso, nos move a fazermos
atentados dignos de terroristas contra os direitos de tais pessoas. Nisso, o
conflito persiste, começam a surgirem combatentes extremistas de ambos os
lados, está armado o ambiente de ódio Bíblia X Homossexualismo. Os atentados
começam a surgir de todos os lados, bancada da Bíblia com sua cura gay, padrões
morais ditos cristãos e ativistas homossexuais nus invadindo celebrações
religiosas, pichando fachadas de templos e masturbando-se e vias públicas com
crucifixos em jornadas religiosas
Citei apenas um único exemplo do que acontece quando o fundamentalismo
religioso toma o lugar do que deveria ser a imagem do Deus de amor,poderia
citar tantos outros, poderia citar a falta de cumprimento do dever bíblico de
cuidarmos dos órfãos e doentes, a inoperância da Igreja em suas comunidades
quanto a creches,escolas, visitas, aconselhamentos e etc.
Toda forma de omissão da manifestação do caráter Divino sempre será um
atentado contra a vida, e quem sofre com isso sempre será o próximo, pois onde
não existe a prática do amor sempre haverá derramamento de sangue, e o
fundamentalismo em que vivemos nos dias atuais nos carrega rumo a violência
física e psicológica.
O texto Bíblico escrito por João nos remete a reflexão do que é o amor,
nos mostra que o amor não pode ser apenas por palavras e convencimento
filosófico, tem que ser prático, no dia a dia. A melhor maneira de mostrarmos
que amamos é lutando pela vida, por direitos, pela liberdade, pela educação,
por melhorias comunitárias, tais lutas mostram qual caráter temos, são elas que
farão refletir em nós o caráter de Deus,elas mostrarão que somos conhecedores e
conhecidos de Deus,pois em forma de amor, manifestaremos as práticas de Deus.
O Evangelho de Cristo,nosso Deus,nunca precisou de defensores,quem
precisa de defensores é um deus morto.O Evangelho da cruz sempre nos convocou a
proclama-lo, nunca a defende-lo, a maior prova disso é que as conversões não
dependem de nossa oratória ou habilidade teológica, mas sim da atuação do
Espírito Santo,somos apenas instrumentos de proclamação das boas novas.
Aqueles homens que ontem causaram tanta dor e morte, obviamente
defendiam a um deus morto,os homens de terno e gravata que determinam leis
demoníacas, acreditando estarem impondo princípios cristãos, também defendem a
um deus morto.Nós, que proclamamos e acreditamos no amor de Deus, temos o dever
de fazer com que esse amor seja manifesto por nossas obras, não para defesa de
nosso Deus, pois Ele é Eterno e não precisa disso, sua Palavra resistiu a impérios
trevosos e nunca sucumbiu, mas sim, por sermos conhecedores e conhecidos de
Deus.
Roger Sola Gratia
Membro do Conselho de Pastores do Brasil. Grupo: Mestres - Teologia & Debates
Postado por Valdeci
Fidelis às 06:47