domingo, 3 de fevereiro de 2019

UM DEUS MORTO


I João 4.8
"Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor."


Foi com muito pesar e comoção que o mundo acompanhou os acontecimentos de ontem (13/11/2015) em Paris. Diversos atentados terroristas sacudiram a capital francesa, homens bombas explodiram-se a si mesmos, visando causar o maior número de mortes possíveis.
Homens munidos de fuzis, atacaram diversos pontos,entre eles, casas de entretenimento, restaurantes, estádios de futebol e etc. Até o momento, mais de 150 vitimas já foram confirmadas, tudo isso girando em torno do que acreditam ser uma "guerra santa", denominam-se soldados de deus tais combatentes, e me pergunto se por um acaso um deus que se julga tão poderoso precisa de defensores ou soldados?

Não é de hoje que os homens fazem guerras em torno de suas religiões, a história nos mostra isso, sempre foi assim, sempre houve a necessidade insana de fazer prevalecer a "fé" através da espada. Homens rudes, sem afeição por ninguém, sempre mancharam as páginas dos livros de história ou manchetes de jornais com sua sede diabólica por sangue, e sempre divinizaram tal sede, como se fossem os enviados por tal divindade para trazer justiça a causa de sua fé.

Os motivos por tais atentados são os mais diversos, variam desde a morte dos infiéis, charges satíricas de seus ícones, represálias políticas e etc. Ninguém é poupado, não se importam com crianças, não respeitam aos idosos, não aceitam o diálogo, apenas a sede incontrolável pelo sangue derramado move tais pessoas rumo ao objetivo a ser alcançado.

Claro que seria muita hipocrisia atribuir essa sede de sangue somente aos fundamentalistas islâmicos, nós mesmos somos ícones da maldade com nossos semelhantes, e não quero nem vaguear em reflexões sobre o que as grandes potências tem feito com seu poder e influência, quero falar sobre a nossa realidade, o que vivemos no Brasil.

Os atentados ao ser humano também acontecem no Brasil, não são com bombas, não empunham fuzis,mas se denominam soldados de deus.São defensores do que chamam de "família", suas fardas são o terno e a gravata, sua arma para realizar tais atentados é a caneta esferográfica. Com essa arma,assinam decretos, determinam leis, subtraem direitos civis das mais variadas minorias,e espantosamente, carregam livros religiosos nas mãos durante suas reuniões comunitárias. Falam constantemente do amor que seu deus tem por todos, afinal são obrigados a isso, está escrito no livro que carregam. Só que não refletem a imagem desse deus que dizem representar.

Veja a que ponto chegam; dizem amar a comunidade homossexual em nome de seu deus, mas não lutam por políticas públicas que demonstrem esse amor. Nisso, me pergunto: Existe amor sem justiça?

Talvez alguém argumente que lutar por justiça junto a causa homossexual seria antibíblico, que isso é abominável a Deus, que tal prática é pecaminosa e etc. Mas esquecem que o casamento é um sacramento da Igreja e nisso o Estado não pode interferir, não pode determinar quem casa ou não, o Estado existe para garantir os direitos das pessoas no âmbito civil, e a nossa falta de amor, movida por um "Q" de fundamentalismo religioso, nos move a fazermos atentados dignos de terroristas contra os direitos de tais pessoas. Nisso, o conflito persiste, começam a surgirem combatentes extremistas de ambos os lados, está armado o ambiente de ódio Bíblia X Homossexualismo. Os atentados começam a surgir de todos os lados, bancada da Bíblia com sua cura gay, padrões morais ditos cristãos e ativistas homossexuais nus invadindo celebrações religiosas, pichando fachadas de templos e masturbando-se e vias públicas com crucifixos em jornadas religiosas

Citei apenas um único exemplo do que acontece quando o fundamentalismo religioso toma o lugar do que deveria ser a imagem do Deus de amor,poderia citar tantos outros, poderia citar a falta de cumprimento do dever bíblico de cuidarmos dos órfãos e doentes, a inoperância da Igreja em suas comunidades quanto a creches,escolas, visitas, aconselhamentos e etc.

Toda forma de omissão da manifestação do caráter Divino sempre será um atentado contra a vida, e quem sofre com isso sempre será o próximo, pois onde não existe a prática do amor sempre haverá derramamento de sangue, e o fundamentalismo em que vivemos nos dias atuais nos carrega rumo a violência física e psicológica.

O texto Bíblico escrito por João nos remete a reflexão do que é o amor, nos mostra que o amor não pode ser apenas por palavras e convencimento filosófico, tem que ser prático, no dia a dia. A melhor maneira de mostrarmos que amamos é lutando pela vida, por direitos, pela liberdade, pela educação, por melhorias comunitárias, tais lutas mostram qual caráter temos, são elas que farão refletir em nós o caráter de Deus,elas mostrarão que somos conhecedores e conhecidos de Deus,pois em forma de amor, manifestaremos as práticas de Deus.

O Evangelho de Cristo,nosso Deus,nunca precisou de defensores,quem precisa de defensores é um deus morto.O Evangelho da cruz sempre nos convocou a proclama-lo, nunca a defende-lo, a maior prova disso é que as conversões não dependem de nossa oratória ou habilidade teológica, mas sim da atuação do Espírito Santo,somos apenas instrumentos de proclamação das boas novas.

Aqueles homens que ontem causaram tanta dor e morte, obviamente defendiam a um deus morto,os homens de terno e gravata que determinam leis demoníacas, acreditando estarem impondo princípios cristãos, também defendem a um deus morto.Nós, que proclamamos e acreditamos no amor de Deus, temos o dever de fazer com que esse amor seja manifesto por nossas obras, não para defesa de nosso Deus, pois Ele é Eterno e não precisa disso, sua Palavra resistiu a impérios trevosos e nunca sucumbiu, mas sim, por sermos conhecedores e conhecidos de Deus.

Roger Sola Gratia
Membro do Conselho de Pastores do Brasil. Grupo: Mestres - Teologia & Debates

Postado por Valdeci Fidelis às 06:47 

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