sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE PREGADORES FIEIS

 

 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE MOISÉS

Concordo com STOTT (2003), quando diz:

“Primeiramente, Deus falou por meio de profetas e interpretou o significado das suas ações na história de Israel, e, ao mesmo tempo, mandou transmitir sua mensagem ao povo, quer pela palavra falada, quer pela escrita, quer por ambas juntas” (STOTT, 2003, p. 15)

Prova disto é que o livro de Deuteronômio pode ser visto como um compêndio de sermões de Moisés ao povo hebreu. Moisés passou boa parte de sua vida no palácio real após ter sido resgatado de um cesto pela filha de Faraó (Ex 2.5). Trata-se de um homem bem instruído, pois a infância na realeza lhe rendeu uma educação diferenciada, cidadão de cultura enciclopédica. Moisés foi o maior guia que a nação hebreia teve. No Pentateuco, tudo o que se fala, se pensa e faz, tem a ver com Moisés. Ele foi um tipo de Cristo que recebeu a incumbência de conduzir o povo hebreu à terra prometida (At 3.22).

O livro de Deuteronômio não é apenas uma mera repetição da Lei e da história de Israel, mas uma série de discursos conclamando o povo de Deus para a renovação da aliança. Deuteronômio é citado no Novo Testamento mais de cinquenta vezes, um número superado somente pelos Salmos e por Isaías. Exortação é o que não falta no livro de Deuteronômio, pois, como mensagens de despedida de Moisés ao seu povo, o livro combina exortação e mandamentos e serve como exemplo sucinto de como a Lei deveria ser transmitida e ensinada às gerações posteriores:

“Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, precisamente no ano da remissão, na Festa dos Tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante o Senhor, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel. Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o Senhor, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei” (Dt 31.10-12).

Percebe-se que o objetivo de Moisés não era sonegar a verdade de Deus ao povo, mas nutri-lo com o trigo da verdade. Moisés tinha plena convicção de que o propósito de ler a “Lei” era uma forma de ensinar ao povo sobre Deus e seus preceitos. Fato interessante é que somente os Dez Mandamentos são dados diretamente pela voz de Deus; todo o restante da lei é mediado através da pessoa de Moisés. “Ouve, Israel, o senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Esta porção do livro de Deuteronômio mostra um Moisés convicto de que sua posição como líder do povo não era apenas um posto de privilégios, mas uma plataforma de serviços. Ele não só leu a lei perante o povo de Israel, mas também ensinou o povo de acordo com os preceitos os quais o senhor havia estabelecido:

“Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o senhor, Deus de vossos pais, vós dá. Nada acrescenteis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do senhor, vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4.1,2).

Moisés leu a Lei, explicou-a e aplicou-a ao coração do povo. Mais importante que receber as bênçãos de Deus é aprender a andar com Deus. O povo já havia recebido a promessa de que Deus os sustentaria provendo-lhes o alimento necessário para sua subsistência durante os anos de peregrinação (Ex. 16.11,12 e 35). Porém, Moisés foi colocado como mediador entre Deus e o povo. No entanto, o ensino da Lei de Deus foi justamente para que o povo não pecasse contra Deus. Tanto é, que quando questionado pelo povo que temia a presença de Deus, Moisés respondeu: “Não temais; Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis” (Ex 20.20). Quem lê a história do povo de Deus no Antigo Testamento toma conhecimento de uma tragédia que se abateu sobre Judá, o reino do Sul: a invasão de Jerusalém, a destruição e saque do templo, a queda da monarquia davídica e o exílio de grande parte do povo, que ao que nos consta, fora levada evidentemente contra sua vontade para a Babilônia (2 Rs 23.36-25.30). Tais acontecimentos se desenvolveram por volta do ano 589 a.C. Aproximadamente 200 anos antes, o reino do Norte, Israel, havia caído perante o avanço do império Assírio. Os dois reinos foram castigados devido à mesma transgressão: desobediência aos princípios estabelecidos por Deus na lei de Moisés. No entanto, como já é de conhecimento, o Senhor disciplinou o povo por sua desobediência, permitindo assim, que fossem vencidos por exércitos estrangeiros, os quais os conquistaram, venceram e posteriormente os levaram para distante de sua pátria.

Ao retornarem para sua terra natal, os exilados encontraram uma cena catastrófica, um cenário de completa destruição, de tal forma que apenas a reconstrução dos muros de Jerusalém, como também do templo, não seriam o suficiente para o completo restabelecimento da nação, mas fazia-se necessária uma completa restauração da sociedade para que então o povo pudesse se sentir repatriado novamente, resgatando, assim, sua dignidade como povo escolhido de Deus. Diante de tal situação, vários líderes foram levantados para fazer a diferença neste momento de recomeço na história do povo de Deus, dentre os quais podemos destacar Esdras, o escriba que fora levantado por Deus no processo de reconstrução da nação.

Esdras destaca-se pelo seu vigor e compromisso com a Palavra de Deus: “Porque tinha disposto o coração para buscar a Lei do Senhor, e para cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (7.10). Esdras era um praticante fervoroso da Palavra de Deus, uma demonstração de pleno zelo com os preceitos divinos. Como ouvinte e praticante diligente da Palavra, o objetivo de Esdras era ensinar seus compatriotas a fazerem o mesmo. A vida e ministério de Esdras são prova viva de que não basta apenas conhecer a Lei de Deus ou apenas ser um erudito com a cabeça cheia de luz, não basta apenas ostentar a Palavra de Deus, é necessário ser boca de Deus.

LOPES (2008, p. 26), afirma que: “Assim como o cirurgião não pode operar com as mãos sujas, o pregador não pode subir ao púlpito com a vida maculada” (Zc 31-10). Da mesma forma, ao falar sobre a vida do pregador, BAXTER (2008, p. 45) ressalta o seguinte: “Não devemos desmentir com a vida aquilo que pregamos com a língua, pois este é o maior empecilho para o sucesso verdadeiro do trabalho do pregador”. Esdras obteve resultados positivos como expositor da Palavra de Deus, pois durante seu ministério demonstrou confiança em Deus (7.6,9,27), dependência de Deus (8.15,21,32) e identificação com o povo de Deus (9.3-15).

Outro aspecto interessante é que a aliança feita era condicional; o Senhor guardaria as suas promessas e Israel obedeceria aos seus mandamentos divinos. Israel, por sua vez, falhou, deixando de observar os mandamentos de Deus, e o resultado foi o exílio. No entanto, em um cenário de destruição, humilhação e pobreza, Esdras se levanta como expositor da Palavra de Deus (Ne 8.1-8). 

A Lei foi não somente lida, mas também explicada, para garantir que o povo compreendesse o seu significado transformador. A fiel pregação da Palavra de Deus pode mudar a história de toda uma nação. Prova disto é que todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei (Ne 8.9), pois, o verdadeiro conhecimento nos leva às lágrimas. Quanto mais perto estamos de Deus, mais nos tornamos conscientes de nossa pecaminosidade. A fiel pregação da Palavra de Deus também traz alegria, pois, esta foi a reação do povo. Choraram de arrependimento pelo pecado e depois se alegraram com a promessa da restauração (Ne 8.10).

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